[Resenha] Feios - Scott Westerfeld

Postado por Cristiana em dezembro 31, 2020

ASIN:  B01AT81DIA
Ano: 2016
Páginas: 414
Editora: Galera Record
Idioma : Português

Pontuação♥ ♥ 

Escrevi essa resenha para o skoob, mas resolvi colocar aqui também!  

Eu não ia me dar ao trabalho de falar desse livro, mas ele me incomodou de uma forma que não posso deixar passar. 

Toda a premissa do livro é bem interessante a primeira vista e você espera que ele se aprofunde nas consequências e desdobramentos de um mundo onde as pessoas são padronizadas por cirurgias plásticas, mas isso não acontece. As discussões são superficiais e o autor optou por passar no raso em uma porção de assuntos em momentos que pediam uma reflexão. 


Tally a todo momento cai de paraquedas, literalmente e metaforicamente, em alguma confusão não planejada por ela. Ela começa a narrativa sendo um exemplo de garota alienada que não questiona as razões para a operação, até encontrar Shay por acaso e a partir daí começa algum debate entre as duas. Shay claramente não quer ser operada porque ela não acredita que exista algo de errado com a aparência que ela tem. Teve alguns momentos que quis que a história fosse protagonizada pela Shay, mas também entendo a decisão do autor de nos inserir naquele mundo sob o ponto de vista de alguém que não anseia mudanças e está contente com as decisões que são tomadas para ela. 

E tudo de fato soa perfeito, um mundo onde não existem desmatamentos, onde tudo é reciclado e etc. Quase fui convencida por um momento de que não havia nada de errado nesse mundo, sobretudo porque o autor insistia que os "Enferujados" haviam destruído recursos naturais, guerrado e feito uma porção de coisas horríveis que não existiam mais na era dos Perfeitos. A questão é em que momento a padronização das pessoas resulta num mundo onde tudo é reciclado? Não sabemos. 

Outra coisa que não é abordada é quem define qual é a aparência adequada que os Perfeitos devem ter? Porque cabelo liso ao ínves de crespo? Porque o nariz fino? Se a ideia de beleza é construida nesse mundo distopico e distante porque ela soa exatamente como o padrão de beleza que é enfiado guela abaixo no mundo de hoje? Tem um momento quando a Tally faz uma versão Perfeita da Shay num software e torna a pele dela mais clara alguma coisa na minha mente acendeu. Em nenhum momento o autor sequer toca em Eugenia, o que ficou gritante para mim o quanto tudo naquele mundo estava errado antes mesmo dos rebeldes revelarem suas motivações para ser contrários a cirurgia (quando só então outra motivação parece justificar a protagonista ser contra as operações). Outra coisa que me incomodou é que todo um período histórico é tratado de uma forma simplória e a Tally comenta sobre conflitos motivados simplesmente pela diferença na cor de pele quando sabemos que não é só isso. 

Do meio pra frente o autor insistiu num romance repentino que ninguém sabe de onde surgiu, e ainda por cima cria um clima de disputa desnecessário entre ela e Shay. E então, curiosamente quando um garoto diz para Tally que ela é linda tudo que ela cresceu ouvindo durante 16 anos parece sumir. Isso mesmo gente. Bastou um garoto dizer para ela que ela é bonita do jeito que ela é para desmantelar toda uma construção social. A partir daí, para o David, tudo que a Tally faz é incrível, não existe nenhuma garota como ela e blá blá blá. 

Tudo nesse romance parece forçado e irreal. E me irritou muito que uma decisão importante para a protagonista tenha quase que exclusivamente sido tomada por conta de um garoto que disse que ela era linda. Acho que ainda fica mais gritante a falta de química do casal quando A Corrida do Escorpião está ainda tão fresco na minha cabeça, e esse livro tem de longe uma das construções de romance mais bonitas que eu já li na vida. 

Li algumas resenhas sobre os proxímos livros e no momento decidi que não vou continuar o segundo livro. Não foi de todo uma leitura ruim, tem alguns personagens interessantes como a Shay apesar do autor ter optado por um destino pra ela que eu não me conformo. Serviu ao propósito de passar algumas horas nesses dias isolada e de férias.

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