Pendurei memórias

Postado por Cristiana em dezembro 08, 2018
Foto: arquivo pessoal

Quem me conhece sabe o quanto decorar e encher os espaços que percorro de cor é importante para mim. O primeiro quarto que tive foi aos nove anos. Eu tinha um espaço exclusivamente meu pela primeira vez na vida  e minha maior diversão nas férias era decorá-lo e encher as paredes de quadros, uma lousa que transformei em mural e colar adesivo nos cômodos, guarda-roupa, cama, qualquer espaço, fenda, cantinho que havia. 

Hoje, depois de quase 10 meses, decorei meu novo quarto pela primeira vez. É claro que eu já tinha testado uma ou outra ideia. Fui até uma loja de decorações na rua de casa e apressei o valor de um muralzinho de ferro colorido com alguns mini pregadores para colocar fotos de casa, minha outra casa, com meus pais e amigos. 50 reais. Eu voltei sem comprar. "Caro demais" pensei. Mas é verdade, eu já tinha feito minhas artes de decorar mais barato e bonito do que esse mural em especifíco, eu imaginei que desse para pensar em algo especial para cá, ou descobrir uma loja mais em conta. Não dá para despediçar dinheiro com isso.

Uns tempos depois descobri a Phosfato, uma dessas start-ups de ideias inovadores. Coloquei meu código de desconto e pedi o pacote de seis fotos surpresas. Conectei com o Instagram e enviei umas fotos do computador. Fiquei curiosa para descobrir quais viriam. Imaginei que chegariam justamente as fotos que queria com as pessoas que amo para colocar aqui e então não haveria desculpa, voltaria na loja para comprar o mural. Qual não foi minha surpresa quando ao chegarem as fotos só haviam imagens minhas. Eu, meu rosto maquiado, meu rosto sorrindo num barco, eu no cinema, eu de pose numa paisagem e a que não apareci era eu fazendo uma das atividades mais solitárias do mundo: ler.

Por que raios eu faria um mural de fotos só minhas? Ver minha cara é a coisa mais fácil aqui. Qualquer prediozinho tem um portão de vidro, o banheiro da faculdade tem pelo menos uma parede inteira de espelhos, elevador, porta do ármario. Meu rosto estampa todos esses espaços. Nada demais.

Eis que eu me pego a pensar sobre o significado disso, se é que existe algum. Quantas vezes eu parei para pensar sobre mim? Quantas vezes eu escrevi e deixei as palavras correrem sem pressa pelas folhas do meu novo diário que as circuntâncias me obrigaram a escrever? Quantas vezes eu fiz algo por mim? Quantas vezes eu li ou me levei ao cinema? Quantas vezes eu parei para pensar sobre o que EU quero a despeito de qualquer influência, voz, sentimento alheio. Não "tá" obvío? "Eu tenho medo de me conhecer".

Parece só um pacote de fotos, mas me fala muito. Hoje eu fui no Saara e comprei pregadores, uns mini, outros maiores em formato de cactos, cordão. Custaram 10 reais. Minto. Foi nove e uns quebrados. Hoje eu fiz um varal com as minhas fotos. MINHAS. Eu mesma e ficou bonito. Com a minha cara e umas frases. 
Hoje eu tive coragem de decorar meu novo lar e isso diz muito. 
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