Razões para escrever

Foto: arquivo pessoal

Ontem eu dormi, mas tive a impressão de que meus pensamentos não dormiram comigo. O cérebro não desligou por completo. Oito ou seis horas que mais pareceram uma. Eu acho que preciso escrever, ou melhor, eu tenho certeza.

Comecei a pensar nas razões que me fazem voltar aqui, no que me faz abrir as páginas do meu diário. Parece menos ruim depois de escrito ou mais claro dentro do emaranhado de sensações?
Porque eu escrevo?


Porque tudo que eu tenho para dizer não cabe numa frase, não cabe numa conversa breve ou longa. Porque durante muito tempo as minhas histórias foram esquecidas e minha voz mal se ouviu no caos. Eu tenho tanto a dizer quanto qualquer um. Eu posso contar todas as narrativas sobre morar no interior, eu posso destrinchar cada detalhe sobre morar na cidade grande e eu posso falar sobre mais.
Mas eu ainda não sei dizer se eu mesma desejo me ouvir ou me ler.

Eu escrevo porque para o meu eu futuro essa é a única pista de quem eu fui. Porque as minhas memórias me enganam constantemente. É o jeito que eu encontrei de viver para sempre.
Mas quem garante que as palavras também não mentem e não mudam de significado?

Eu não tenho razões para não escrever, ainda que às vezes pense que sim. Algum dia eu imaginei que não fosse tão boa assim, que as palavras soam falsam, que eu não sei todos os acentos de todas as palavras e que se não for para ser estupenda de que adianta?

Eu escrevo porque eu não escrevo bem. Existe outro jeito de praticar?
Eu escrevo porque senão quem vai escrever por mim?